Hoje eu fui
deixar minha irmã na célula e no caminho vi uma mulher dormindo na rua. Aqui
onde moro isso não é comum, muito pelo contrário, há mais de dez anos que moro
aqui e nunca havia vivenciado um fato como esse. Enfim, depois que voltei para
casa fiquei me perguntando se aquela mulher estava com fome, por que ela estava
ali e etc.
Esquecendo esse
fato, fui ler a bíblia na rede. No meio da leitura li o seguinte trecho: “O
povo pergunta a Deus: “Que adianta jejuar, se tu nem notas? Por que passar
fome, se não te importas com isso?” O Senhor responde: “A verdade é que nos
dias de jejum vocês cuidam dos seus negócios e exploram os seus empregados.
Vocês passam os dias de jejum discutindo e brigando e chegam até a bater uns
nos outros. Será que vocês pensam que, quando jejuam assim, eu vou ouvir as
suas orações? O que eu quero que vocês façam nos dias de jejum? Será que desejo
que passem fome, que se curvem como um bambu, que vistam roupa feita de pano
grosseiro e se deitem em cima de cinzas? É isso o que vocês chamam de jejum?
Acham que um dia de jejum assim me agrada? Não! Não é esse o jejum que eu
quero. Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima
deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão oprimidos,
que acabem com todo tipo de escravidão. O jejum que me agrada é que vocês
repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que
estão desabrigados, que dêem roupas aos que não têm e que nunca deixem de
socorrer os seus parentes.” Isaías
58:3-7, ênfase minha.
Na hora em que li
esse trecho, lembrei-me de que há um ou dois dias havia pedido a Deus para
colocar no meu coração um jejum especifico e lembrei-me também daquela mulher.
Reli essa passagem e Deus falou comigo. Fiquei bastante intrigado em
pensamentos. Poxa, será que eu sei jejuar de verdade? Será que Deus quer que eu
ajude aquela mulher?
Estava me
sentindo na obrigação de ir falar com ela e acabei indo, quando cheguei lá
disse:
- Olá, boa noite, tudo bem?
Ela imediatamente
me respondeu:
- Não, eu vou
embora segunda feira, não precisa se preocupar. Minha sobrinha vai sair do
hospital segunda feira, eu vou buscá-la e depois irei embora.
Eu não estava
preocupado quando ela iria embora. Eu queria apenas saber se ela precisava de
ajuda e se aceitaria um prato com comida. Então, como ela não me deu a
oportunidade de explicar o porquê de eu estar ali, indaguei:
- Tudo bem,
senhora, eu só quero saber se você está com fome e se você aceita um prato com
comida.
- Não, moço, é
que eu vou embora segunda, só preciso pegar minha sobrinha no hospital. Disse
ela mais uma vez.
Eu, sem entender
o porquê de ela estar respondendo a mesma coisa e não o que eu queria saber,
tentei de novo:
- Não, senhora...
Ela me
interrompeu bruscamente, com voz alta e raivosa e com as mãos nos ouvidos dizendo:
- Não adianta, eu
não escuto.
Vou confessar que
eu ri. Não consegui controlar a vontade. Mas como estava determinado a oferecer
ajuda, gesticulei, falei com ela em forma de mímica, ela me entendeu e aceitou
a ajuda. Conseqüentemente, dei a ela a comida e fui pra casa aliviado, com uma
paz enorme no coração, como se tivesse ‘passado no teste’.
Então, com essa
experiência, aprendi que nem sempre o importante é a gente jejuar do nosso
jeito, ou seja, fazendo aquilo que NÓS achamos o certo, mas, sim, simplesmente
obedecer aquilo que o Senhor nos pede pra fazer e, no meu caso, foi esse
simples gesto de compaixão.
Caio Lucena.